Justiça: O ciclo vicioso da história de Elisa


     Hoje é dia de falar de Justiça! Aleluia, aleluia...
     Desde o começo, ficou bem claro que essa não é uma série para os fracos, é para quem está disposto a cutucar a própria ferida sem medo de fazer sangrar e aprender com a dor. Abre, expõe, e questiona até quando vamos continuar nos autoflagelando. Simplesmente pegaram todos os problemas sociais que tentamos evitar todos os dias e nos enfiaram goela abaixo.
     Não há inocentes, nem mesmo as vítimas das injustiças retratadas são apresentadas com algum tipo de caráter reto ficcional que não convence ninguém. Não. Todas as personagens são reais, com erros, fraquezas e atitudes puramente humanas. Nós nos vemos nelas e é isso que dói. Esse reflexo rachado, escancarado numa tela de televisão. Pela primeira vez, a imperfeição nos está sendo vendida e desvendada.


     Ontem, a história de Elisa, Isabela, Vicente e companhia chegou ao fim. Na trama da mãe que teve a filha assassinada: o ódio, o perdão, a loucura, a vingança e a incoerência das personagens.
     Por mais que alguns aleguem que a história tenha se perdido com o envolvimento de Elisa e Vicente, quem se perdeu foram os personagens, não a história. E quem poderia julgá-los? Uma situação de dor extrema e estranha dependência. Elisa transformou Vicente num símbolo de morte e vida da filha. Ele trazia lembranças de Isabela, boas e ruins, e era a conexão mais forte que Elisa ainda tinha com a garota. Vicente, por sua vez, dependia do perdão da professora para conseguir seguir em frente. Um não conseguia se livrar do outro e, por isso, o devaneio. Não estou justificando (eu também senti o mesmo nojo que a maioria sentiu com a cena do beijo), mas é compreensível a falha e a confusão humana de ambos. Da mesma forma que é compreensível a nossa reação de negação.


     E no último capítulo, quando Elisa jogou a arma fora, já estávamos simpatizando com Vicente. Já queríamos que ele retomasse a vida e cuidasse da nova família. Mesmo ele sendo assassino? Mesmo ele sendo assassino. Estranho, não acham? Em algum momento, na vida real, paramos pra pensar no bem estar de um assassino? A nossa noção de justiça também é bem complexa e particular.
     Quando parecia que o final seria tranquilo e todo mundo sairia perdoado (que patético seria), a autora nos joga um fator surpresa assustador no meio de um capítulo absolutamente morno: uma pancada de carro!
     E agora estava lá: a vingança de Elisa. Ela não matou, mas também não salvou Vicente. A tal da justiça divina se deu à sua frente, e o que ela acreditava ser o desfecho ideal aconteceu: o assassino morreu. Ela desfez o quarto da fila e conseguiu concluir seu ciclo de dor, mas deu início a um novo ciclo: o da esposa de Vicente, que encerrou o episódio do mesmo jeito que o primeiro episódio começou, treinando tiro para se vingar. 


     Particularmente, eu achei GENIAL! Principalmente pelo fato de ser um final imprevisível e muito bem construído. Quem pensaria numa coisa dessas, gente? Fui dormir feliz com a sensação de ter sido apresentada a uma excelente obra, que me causou tantas sensações e reflexões.

     Adicionaria ainda ao enredo da Elisa, um pequeno lapso de hipocrisia dos alunos que indiretamente foram responsáveis pela tentativa de suicídio de uma colega de classe no segundo episódio da trama. E quantos casos desses não vemos diariamente?  Vídeos que vazam e garotas que têm a vida destruída por uma "brincadeirinha" machista. Anotei uma frase da Elisa desse referido episódio que vale a pena ser mencionada: "Vamos pensar cada um na própria hipocrisia que sempre precisa de um bode expiatório pra tudo de ruim que acontece?"

Hoje vai ao ar o último episódio da história de Fátima e vamos torcer para que seja tão excelente quanto o de ontem.
Comentários
0 Comentários